Certa vez encontrara um monge em posição de lótus lendo um livro. Usava vestes na cor laranja e parecia compenetrado. Fiquei extremamente curioso, uma vez que tenho muito respeito pelos monges e já sabia como viviam. Passava por uma estranha fase em que meu coração já não pousava em canteiros mundanos e havia me perdoado em todos os sentidos, afinal sempre me cobrara muito.
Tendo ele, mais experiência de vida, pensei em extrair do monge o máximo de conhecimento que poderia. Estava ávido por repostas, pois até o momento minhas perguntas nunca haviam sido respondidas.
Passava por uma crise existencial enorme e não sabia exatamente o que fazer e lhe expliquei que também tinha desejo em abandonar a vida que tinha para viver em reclusão, pelo menos um tempo e então me preparar para uma vida monástica, religiosa.
Descobri que não era tão simples e que devia primeiro preparar meu coração para abandonar as coisas que me prendiam e me afastavam meu propósito.
Sentei junto com ele e fizemos um exercício de respiração. O modo como falava era mais calmo que o meu e trazia consigo uma pureza no olhar de quem vive uma vida voltada para os caminhos sem vaidade, os quais já vivia e conhecia a dor que se tornou em alegria.
Disse-lhe também que havia um detalhe que me impedia seguir meu caminho, afinal, religiões me causaram tantas dores quanto o mundo em si. Para minha surpresa, segundo ele, já não seguia determinados padrões de sua linha, mas nunca se desvirtuara de seus votos, o que espero ter entendido e não ter me confundido.
Lembrei-me de Sidarta e da forma que se afastou dos prazeres que a vida lhe permitia sendo um jovem príncipe.
Não me lembro de tê-lo abraçado, mas meu coração se conectou de tal forma ao que vivenciamos que senti uma paz muito profunda. Uma paz que há tempos não sentia.
Havia lhe perguntado como me portar em situações extremas, onde deveria me posicionar como ser humano e entendi que já carregava a resposta comigo desde sempre, mas nunca a ouvia. Era uma vozinha muito fraca que tentava falar comigo, mas não dava a atenção necessária.
Aquele momento se estendeu e senti durar uma eternidade, onde somente nós dois existíamos e nada mais em volta poderia nos afastar daquela sensação a qual nunca esqueci. Do mestre e do aluno, embora assim, ele não aceitasse, devido uma de suas grandes virtudes, a humildade!
Segurei suas mãos e lhe pedi um último conselho, que após pensar um pouco, respondeu-me com um sorriso nos lábios e uma calma ainda mais aparente!
Sabendo o que de fato se passava comigo, disse-me:
Faça do bem a sua religião!
Repeti novamente baixinho como se as palavras precisassem entrar à força em minha mente, absorvidas de algum modo.
Ele riu serenamente, pois sabia que não era necessário. Foi quando dois rapazes chegaram e o monge me apresentou a eles. Estavam ali para busca-lo e levá-lo até o local em quem ficaria por alguns dias.
Nos levantamos e apertei a mão dos dois cordialmente. Expliquei a eles que pedia conselhos ao monge. Mal sabia eles que provavelmente, faria o mesmo com qualquer outro monge.
E assim, agradecendo pela tarde que tivemos, o monge se foi e observei quando o mesmo entrou no carro.
Fiz uma reverência com meu corpo e ele de longe com a cabeça também.
O conselho que me deu, levaria para toda a vida e talvez seja o que precise fazer no momento. Seguir o caminho do bem.
Religiões? Embora não me importasse em estar em contato, senti que só encontramos Deus quando de fato o desejamos. Nada nos preenche, quando não há verdadeira entrega. Embora eu tivesse feito a maior entrega de minha vida, senti que devido a fatos que sucederam, que talvez não fosse o momento certo e que muito haveria para aprender.
Submitted: February 20, 2025
© Copyright 2025 Jailton Costa. All rights reserved.
Facebook Comments
More Other Short Stories
Discover New Books
Boosted Content from Other Authors
Book / Romance
Short Story / Other
Short Story / Other
Poem / Poetry
Boosted Content from Premium Members
Book / Thrillers
Book / Young Adult
Book / Religion and Spirituality
Other Content by Jailton Costa
Short Story / Other
Short Story / Other
Short Story / Other