Noite de Luar e Caminhada
Short Story by: Jailton Costa
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A noite estava clara e bonita como nunca esteve antes. Tive dúvida se deveria abandonar meu quarto seguro e aconchegante para enfrentar a noite abafada, devido ao dia extremamente quente.
A lua estava alta no céu e raramente se via uma ou outra estrela cintilando, sendo provavelmente um dos planetas que não conhecemos o nome, mas passavam no jornal da noite com várias informações científicas.
A cor do ceu não estava escura como costumava estar à noite e sim um azul muito claro, no qual as nuvens se destacavam ainda brancas como eram na luz do dia, mas com alguns detalhes em cinza.
Ao sair de casa, noitei que não havia pessoas na rua. Como poderia? Uma noite tão linda e ninguém estava admirando a beleza daquele céu noturno tão limpido?
Caminhei em direção a saída da cidade como tanta vezes fizera. Sempre caminhava à noite, uma forma de me exercitar e afastar o estresse diário que acomulava em meu corpo e mente, embora me fosse aconselhado não o fazer devido aos perigos que uma estrada à noite proporcionava.
Trazia comigo uma bolsa peruana com uma garrafa d'água e uma bala halls, a qual encontrara em uma das sacolas da última compra no supermercado. Carregava uma pequena chave que abria a sala de casa e no pulso um relógio de lembrança, um presente de minha tia que morava longe e há muitos anos não a via.
Embora não houvesse pessoas pela rua, percebia os comércios cheios e os carros que passavam de um lado para o outro, enquanto alguns cães vinham me farejar como se fosse um desconhecido, mas os via sempre, pois fazia sempre o mesmo trajeto.
Usava o celular para ouvir músicas de minha playlist recente e usava um fone com fio, pois era mais seguro. Não deveria utilizar o enorme fone bluetooth que deixara em segurança, pendurado no cabide próximo à minha cama de madeira.
Senti a brisa da noite, quando percebi o cardarço do tênis do pé direito se afrouxar com o movimento. Após ajeitar as meias brancas, perguntei a mim mesmo se estava na direção correta. Olhando para o céu, avistei AS TRÈS MARIAS e logo após longos exatos cinco minutos, pude me situar! Não estava tão longe de casa e ainda avistava a cidade ao longe com suas pequenas luzes tremeluzentes.
Muitas vezes havia deixado a cidade para trás! Em meus pensamentos, uma simples carona me afastaria eternamemte de tudo o que passara ali e me levaria a um novo começo em um lugar totalmente novo, onde poderia andar com minhas meias "três quartos", mesmo não sendo um aluno da escola de futebol.
O mato estava alto, o que me preocupou. Poderiam haver cobras e pessoas poderiam se esconder. Ainda me recordava do último caso de desaparecimento na televisão e dos terríveis casos de assalto e estupro.
Embora morasse numa cidade pequena, não confiava nas pessoas. A cidade se expandia aos poucos e trazia moradores longinquos, os quais não conhecíamos e não poderíamos ter certeza de suas índoles ou idoneade intacta. Além disso, a ida e volta de bandidos pelas estradas era algo comum.
Acelerei o passo e começava a correr. Os caminhões passavam e alguns carros businavam. Provavelmente me reconheceram à luz do luar. Havia muitas fazendas e vilarejos próximos e as pessoas iam e vinham de suas casas até a cidade para realizar suas atividades diárias e retornavam à noite. Para minha surpresa, não era o único. Muitos ciclistas voltavam na mesma via e algumas pessoas que iniciavam suas corridas pelo fim da tarde, também. Nos cumprimentávamos com um tímido "BOA NOITE" ou um rápido aceno de cabeça e seguíamos.
A lua iluminva o caminho e para minha surpresa a vontade de retornar era maior do que a minha força de vontade. Eu precisava chegar até a placa, onde chegara na tarde da semana anterior e não aceitaria menos do que isso. Meu coração batia rápido e sentía o suor escorrer pelo o meu rosto. Com um gole, bebi a água da garrafa e pensei em reduzir o passo, afinal, não poderia abastecê-la.
Enquanto percorria o asfalto sem nenhum buraco, observava as sombras das árvores do cerrado com seus galhos nada retilineos e destoantes das demais árvores e o campim verde ficando para trás. Que linda aquela paisagem ficaria em um quadro! Fazia desenhos e as cores da noite eram absolutamente interessantes e me animavam para tentar algo no dia seguinte.
A bateria do celular acabava e reduzi o brilho da tela para que durasse um pouco mais. Não estava utilizando a lanterna do aparelho, mas as canções que escutava foram o suficiente para reduzir a porcentagem de carga
O amor tem formas, formas, aromas,
Vozes, causas, sintomas
O amor...
Tocava Paulinho Moska e não aguentei. Parei no mesmo instante. O tom do amor era demais para mim. Aquela canção me trazia tantas lembranças!
Respirei profundamente e me veio tantas coisas à mente como uma dor muito forte na cabeça me atingira em cheio e me fizera cambalear, como se carregasse o peso de muitas âncoras em meu boné!
Coloquei as mãos na cintura e observei o nada. Naquele momento, senti que não passava de um jovem adulto perdido em minhas próprias convicções. Quanta tristeza carregava em meu coração e não sabia em como lidar com tudo aquilo.
A lua mudara sua posição no céu e não ocupava o centro como antes, porém, sua luz ainda era o suficiente para iluminar milhares de estradas pelo Brasil.
Sentei-me em um meio-fio tentando respirar e um carro parou. Um rapaz de boné quis saber se estava bem. Confirmei timidamente que sim. O bom homem seguiu seu caminho enquanto me acalmava.
Precisava retornar, do contrário, não poderia fazer o mesmo trajeto novamente. Havia me afastado o suficiente da cidade, a nível de não exergá-la nem mesmo com um binóculos.
Levantei-me olhando para o asfalto. Precisava de um banho de água fria e de minha cama, ainda que meu colchão fosse duro como pedra. Ajustei os óculos em meu rosto e ganhara como que magicamente uma injeção de ânimo.
Continuei a caminhada e tentara correr alguma vezes…
A música que ouvira por último fora Bitter Sweet Symphony da banda The Verve e de repente ficara sem carga alguma, o que agradeci. Já não queria ouvir nada mais nada naquela noite.
Entre paradas para respirar e continuar correndo, percebi que deveria continuar caminhando. Para que tanta pressa? A noite seria longa e provavelmente chegaria às 22h00, quando costumava tomar o chá que preparava todas as noites!
Que orgulho senti! Havia conseguido mais uma vez. O último médico com quem havia me consultado me alertara de minha saúde e embora nunca fosse sedentário, estava me esforçando como nunca havia feito antes.
Estava novamente motivado, ainda que voltar para casa fosse meu principal objetivo. Em determinado momento, tentei fazer uma estrelinha e não conseguira. Meu corpo ainda travava em determinados movimentos. Enquanto estava no chão, devido ao tombo, um carro branco passara businando e me apressei para sair daquela situação constrangedora.
Continuei seguindo, quando uma moça de cabelos cacheados passara em uma bicleta, acenando. Éstavamos chegando novamente a cidade. O arco de entrada já era visivel e as luzes antes pequenas se transformaram em pequenos prédios, casas e postes de luz.
Verifiquei se estava com tudo que havia levado na bolsa de uma alça e me preparei para entrar na claridade artificial abandonando para trás a paisagem escura.
Cruzei a lanchonete ainda aberta e desci as ruas enquanto avistei um dos rapazes que fazem entrega de pizza fazer o contorno em um dos balões da avenida.
Diminuí o ritmo. Já me sentia seguro novamente. Apalpei os meus joelhos na esperança de identificar a dor que sentira durante a caminhada, mas nada anormal.
Quando chegara em casa, bati no portão e enquanto aguardava abrirem, me dando passagem, observei um gato que caminhava pomposo em cima do muro. Não quis assustá-lo. Gostava destes pequenos.
Quando estava em meu quarto, após um banho revitalizante, percebi o silêncio que reinava em toda a casa. Não assistia televisão, apenas quando o noticiário chamava a minha atenção com os alertas de emergência. Talvez pudesse ouvir a rádio local com músicas depressivas de Rock and Roll como sempre fizera.
Foi quando percebi sobre a cama um livro grande de capa dura, o qual não havia me lembrado de colocá-lo ali. Toquei sua brochura, sentindo com prazer cada detalhe e senti com os dedos as pontas das capas. Que primor! Meu coração se acalentou. Somente um bom livro poderia me trazer aquela sensação que desde a infância desfrutava.
O abri em meu colo e com cuidado o folheei, observando as figuras e a diagramação perfeita das páginas. Algum tempo se passou e iniciei a leitura… uma prazerosa leitura, a qual me deixou envolvido por horas e não havia me dado conta.
Permaneci assim por toda a noite, embora de fato, não estivesse ali. Provavelmente, em um reino muito distante combatendo algum dragão sanguinário e cumprindo provas estabelecidas por algum rei mesquinho.
Submitted: February 20, 2025
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